Silenciei por muito tempo, mantive
o seu e o meu silêncio esquecidos na correria do tempo, na loucura da rotina e
me habituei a ele. Me acostumei ao seu sorriso vazio e aos seus olhos embaçados,
e mantive o manto de silêncio entre nós, até que ele não me ferisse mais. Me tornei
grata por ele, porque a ausência de som abriu espaço para que a música da vida
entrasse e permitisse que a voz mais importante de todas fosse novamente ouvida.
E um silêncio se sobrepôs ao outro, me preparando
para as despedidas e as chegadas que logo vieram.
As malas e as caixas de papelão
se encheram de palavras, histórias, passado e futuro. Haviam sempre beijos, até
logos e nos vemos em breve, carregados de arrependimentos. A liberdade e a
independência, afinal, tinham o seu preço pago em moedas de silêncio, à prestação
de sorrisos, mas com juros altos de saudades.
Mesmo depois de tanto silêncio,
algumas palavras voltaram a revisitar minha mente, meus lábios e minha caneta,
se unindo ao ar que resolveu retornar aos pulmões. Mas elas vêm diluídas, como
um floral de Bach, com poder curativo a longo prazo. E das palavras com
ausência de som brotou um grito contra a falta de cor, e o mundo cinza se
tornou um furacão de cores vivas e cheias de significados.
Me senti como alguém que abriu os
olhos pela primeira vez e enxergou as cores, as formas e as belezas naturais,
como alguém que ouviu pela primeira vez uma melodia e o canto de um passado,
como alguém que sentiu pela primeira vez o ar entrando em seus pulmões e o
perfume das flores.
A vida que a gente adia para
depois daquela compra, daquele emprego, da faculdade ou da aposentadoria, surge
em uma manhã qualquer e te cobra sorrindo irônica. Porque aquele compromisso já
foi cumprido, o emprego te chamou, a aposentadoria chegou e o diploma da
faculdade está pronto. Mas como uma mania, procuramos adiar mais uma vez a vida
que deveríamos estar vivendo. Só que ela não desiste e me chama sutilmente para
dançar, para pintar, para cantar, para escrever ou para andar de skate.
A vida grita com você e comigo, e
me joga pra fora da cama...
“Chega de Silêncio!”