quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Batalha de Argel

"Começar uma revolução é fácil, difícil é continuá-la e mais difícil ainda é vencê-la", essa é uma das frases de A  Batalha de Argel. Baseado em fatos reais e com a fotografia envolvente de Marcello Gatti, a obra de Gillo Pontecorvo carrega o peso político das vivências de seu próprio diretor. O falecido cineasta italiano, nascido em Pisa, emigrou para Paris no período da ditadura fascista de Mussolini. Passou a fazer contato com a resistência italiana, e se filiou ao Partido Comunista em 1941. Mesmo graduado em química, trabalhou como jornalista e dirigiu a revista comunista quinzenal "Pattuglia" (Patrulha).

A partir dos anos 50, dedicou-se ao cinema, dirigindo documentários. Sua estreia na ficção foi com Giovanna, episódio do filme Die Vind Rose, (1954) sobre uma operária da indústria têxtil. Dirigiu também A Grande Estrada Azul (1957), Kapò (1959), Queimada! (1969), Ogro (1980), O adeus a Enrico Berlinguer (1984), Firenze, il nostro domani (2003). Entre 1992 a 1996, Pontecorvo foi o diretor do Festival de Cinema de Veneza.

Em 1965, foi a vez de A Batalha de Argel. O filme se passa na cidade de Argel, na Argélia. entre 1954 a 1962, durante  o período de transição entre o colonialismo francês e a independência argeliana. Uma cidade que se divide  entre a Casbah e o bairro europeu, mas essa divisão não é só territorial, ela é principalmente cultural, já que a Argélia sofre com o colonialismo francês há 130 anos.

É neste cenário de conflito que nasce o grupo de resistência FLN (Frente de Libertação Nacional) com os chefes Omar Ali ( Ali La Poente), Jaffar, Ramel e Si Murad. Mostrando as ações de ambos os lados, o filme apresenta todas as formas de violência disponíveis em uma época de conflito, sejam os métodos de tortura e prisão, como os de atentados a civis.


Sem eleger nenhum personagem como principal, a obra resolve dar um panorama quase documental dos chefes envolvidos, tanto os "cabeças" da organização clandestina, como o experiente Coronel Mathieu, escolhido especialmente para "lidar" com o conflito. 

Os 117 minutos e a imagem bem antiga de A Batalha de Argel pode cansar um pouco, principalmente na primeira parte em que os personagens e o contexto é apresentado. Porém, do meio para o final, os paralelos com a nossa própria história e com os conflitos contemporâneos prendem mais a atenção, levando os espectadores a uma reflexão real de que o cinema não tem tempo de validade.

A Batalha de Argel venceu o Grande Prêmio do Festival de Veneza, além de ter sido indicado a três Oscars, como melhor roteiro original, melhor diretor e melhor filme estrangeiro.

Ficha Técnica:
A Batalha de Argel (La Battaglia di Algeri, Argélia/Itália, 1965 - Casbah Films e Igor Film)
Longa-metragem, 117 min.Direção: Gillo Pontecorvo; Roteiro: Gillo Pontecorvo e Franco Solinas
Música: Ennio Moricone e Gillo Pontecorvo; Fotografia: Marcello Gatti
Elenco:  Brahim Haggiag, Jean martin, Yacef Saadi, Samia kerbash, Ugo Paletti, Fusia El Kader, Mohamed Ben Kassen.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Eterna Estrada

A história de um padre andarilho e suas marcas deixadas na Região

Parte 7 - Final

Assim como sua missão, Anchieta não via limites para suas andanças, tanto que em uma carta escrita em março de 1555, ele conta aos irmãos de Coimbra, "aprendi cá um ofício, que me ensinou a necessidade, que é fazer alpargatas, e sou já bom mester; e tenho feito muitas para os irmãos, porque não se pode cá andar pelos matos com sapatos de couro".

Sua experiência o levou à terras distantes e diversas vilas, como a que se formou onde atualmente está a cidade de Peruíbe. Lá foi construído pelos índios o Mosteiro de São João Batista, que se tornou um ponto importante de catequese,além de pouso e abastecimento de viajantes. Anchieta esteve por aquelas bandas, alguns dias que antecederam dua ida à aldeia de Iperog, em missão de preparo para o armistício com os Tupinambás de Ubatuba. Hoje, o Mosteiro é conhecido por Ruínas do Abarebebê, em referência ao Padre Leonardo Nunes, também chamado de Padre Voador.

Enter suas caminhadas chegou à São Paulo, Rio de Janeiro e enfim em Espírito Santo, onde fechou os olhos pela última vez aos 63 anos, no dia nove de junho de 1597, na cidade de Reritiba. Atribui-se a colonização desta região capixaba à Padre Anchieta, que no decorrer de uma viagem em 1569, fundou a povoação. A vila foi elevada à categoria de cidade somente em 1887, recebendo assim o nome que continua até hoje: Anchieta.

Para onde quer que se vá o nome do jesuíta está lá, dessa forma todos os caminhos levam ao padre. Um bom exemplo é a via Anchieta, principal ligação para nada menos que o litoral sul de São Paulo. Tornando, assim, impossível não encontrar com o personagem em alguma esquina.

Uma avenida em Peruíbe; uma praça em Praia Grande; um bairro em Itanhaém e uma rua em Santos, São Vicente e Mongaguá. Um caminho e um destino, sua missão de andarilho permanece subentendida e eternizada por uma estrada.

Porém, cinco séculos depois da passagem de Padre José de Anchieta pela Região, suas pegadas marcadas nas areias das praias das cidades, hoje somem com as ondas da modernidade.