Fotos inspiradoras, comidas
apaixonantes, histórias emocionantes... Aquela página em branco, pronta para se
enfeitar de palavras e traços.
Mas a máquina fotográfica já não
funciona mais, as paisagens bonitas perdem a chance de se tornarem eternas, se
perdem na lembrança de um momento. A página em branco permanece em branco, as
palavras sumiram e não há mais imagens para desenhar.
A mão enfraquecida apenas dói com
o movimento repetitivo e o corpo deixa de existir com a rotina que se acumula. A mesma paisagem, o mesmo dia, as mesmas
pessoas. A alma se desmancha perdida em um mundo que não lhe pertence e
esquecida de quem é. A mente se inquieta e enlouquece.
E quando chegamos à loucura,
quando toda a razão já se foi, é a hora de fechar os olhos viciados, recolher a
alma desmanchada e encontrar o corpo humano. O ser-máquina ainda luta com a
sensibilidade do espírito, mas ele se cansa facilmente e agora está jogado em
um canto, abandonado e sem forças.
Depois de meses vivendo quase no
piloto-automático, era preciso parar e respirar, para lembrar que ainda estava
viva. Quando paramos e esquecemos a loucura da vida na Terra, é preciso lembrar
quem costumávamos ser, o que costumávamos sonhar. E o grito da arte ecoa pelos
corredores. Afinal, a arte é a expressão da alma. Faxina, da casa, do corpo e da alma. É preciso
um tempo de reabilitação!
Estou fechada para balanço, é tempo de jogar fora o que não
serve mais, renovar as cores, o cabelo, as bijuterias, as roupas e os
pensamentos. Achar a inspiração em algum
lugar no mundo lá fora ou aqui dentro.
Reencontrar a garota dos laços e brincos delicados, a menina
do rock e das roupas estilosas, até a moça meio hippie, cheia de teorias e
meditações.
Voltar às palavras é difícil, aos traços é pior ainda. Mas
os primeiros passos já foram dados. As
páginas em branco começam a ser preenchidas...