O silêncio era ensurdecedor, mas
eu preferia a sua companhia a qualquer outra conversa trivial. Ele tem se
mostrado um bom ouvinte, porque quando nossa boca se cala, a mente e o coração
se manifestam. Era possível ouvir os meus anseios, temores e ao mesmo tempo
encontrar conforto e palavras amigas.
Naquela noite, até o mundo tinha
silenciado, não havia as vozes dos ventos, o canto dos pássaros, o grito
irritante das ambulâncias e viaturas. Não havia brigas ou o som de passos
apressados, nem mesmo o barulho de asas ou patas de insetos que insistem em
querer passar pela janela nos dias de calor. Não havia nada, apenas eu e o
silêncio.
E ele resolveu me acompanhar
durante o dia seguinte, de uma forma estranha, minha voz tinha perdido a força
e eu já não a reconhecia mais. Mas a necessidade do meu silêncio, não
significava ou explicava o seu. Permaneci na ignorância das palavras não ditas
e das perguntas sem resposta.
Minha vida estava mudando, havia
tanta coisa por vir e todo o seu interesse tinha sumido de uma hora para outra.
E também havia tanta coisa que eu queria saber de você, mas naquele momento,
havia um manto espesso de silêncio, um abismo ao invés de uma ponte. Seu rosto
sem expressão, emoção ou um simples sorriso, tudo tinha desaparecido junto com
o brilho nos seus olhos. E os abraços calorosos e sinceros, que esperava depois
de tanto tempo, não vieram...
No entanto, como dizem, o tempo é
o melhor conselheiro e remédio, e dessa forma, permiti que o silêncio ali
permanecesse, dentro de mim e entre nós. E por mais solitário que fosse, o
silêncio acabou por preencher os espaços ocos que haviam.