domingo, 30 de setembro de 2012

Uma mão



O dia e a noite se misturavam ao som de músicas velhas e conhecidas que a faziam companhia. Entre vitaminas e florais, ela tentava se manter acordada e viva para enfrentar mais um dia sem saber direito o que fazer, mas com a consciência de que uma pilha de pendências a esperava, em qualquer lugar. Não era possível fugir de tudo ou se esconder dos problemas, em algum momento, eles sempre a encontravam.

Mas ela estava com as pernas doendo de tanto correr, tudo o que precisava era se equilibrar com uma única perna no chão, abrir os braços e buscar um ponto fixo, logo a sua frente, em que pudesse confiar e que não se movesse, e que permanecesse sempre ali. Para conseguir, a sua concentração precisava ser total, nada ao redor poderia distrair.  Dessa forma, era possível até esquecer que apenas um pé está no chão e todo o resto do corpo está flutuando no ar. Mesmo assim, só aquele pequenino ponto a manteria em equilíbrio. E ele poderia ser qualquer coisa. Poderia ser qualquer um. Que simplesmente não a deixasse cair. 



Perdida em papéis e textos, ela buscava uma mão que a resgatasse. Que a chamasse para dançar mesmo estando de pijamas e descabelada. Que a fizesse companhia no sofá, enquanto escreve sem parar. Algo ou alguém que lhe devolvesse as cores e o rubor. Que lhe deixasse respirar, não que lhe tirasse o fôlego. Que a abraçasse e não que a sufocasse.  Um ponto fixo em que encontrasse o equilíbrio que tanto precisa.


Depois de tantos anos, a menina tinha se cansado da estrada longa, dos passos errantes, do pensamento sem parada. Queria a calma, o silêncio, o andar vagaroso e compartilhado, em que pudesse aproveitar a paisagem. Uma caminhada ao invés de uma maratona, que a inspirasse e que a enchesse de palavras. Porque finalmente tinha percebido que sem palavras, ela não era nada.