O dia e a noite se misturavam ao som de
músicas velhas e conhecidas que a faziam companhia. Entre vitaminas e florais, ela
tentava se manter acordada e viva para enfrentar mais um dia sem saber direito
o que fazer, mas com a consciência de que uma pilha de pendências a esperava,
em qualquer lugar. Não era possível fugir de tudo ou se esconder dos problemas,
em algum momento, eles sempre a encontravam.
Mas ela estava com as pernas doendo de
tanto correr, tudo o que precisava era se equilibrar com uma única perna no
chão, abrir os braços e buscar um ponto fixo, logo a sua frente, em que pudesse
confiar e que não se movesse, e que permanecesse sempre ali. Para conseguir, a sua
concentração precisava ser total, nada ao redor poderia distrair. Dessa forma, era possível até esquecer que
apenas um pé está no chão e todo o resto do corpo está flutuando no ar. Mesmo
assim, só aquele pequenino ponto a manteria em equilíbrio. E ele poderia ser
qualquer coisa. Poderia ser qualquer um. Que simplesmente não a deixasse cair.
Perdida em papéis e textos, ela
buscava uma mão que a resgatasse. Que a chamasse para dançar mesmo estando de
pijamas e descabelada. Que a fizesse companhia no sofá, enquanto escreve sem
parar. Algo ou alguém que lhe devolvesse as cores e o rubor. Que lhe deixasse
respirar, não que lhe tirasse o fôlego. Que a abraçasse e não que a sufocasse. Um ponto fixo em que encontrasse o equilíbrio
que tanto precisa.
Depois
de tantos anos, a menina tinha se cansado da estrada longa, dos passos errantes,
do pensamento sem parada. Queria a calma, o silêncio, o andar vagaroso e
compartilhado, em que pudesse aproveitar a paisagem. Uma caminhada ao invés de
uma maratona, que a inspirasse e que a enchesse de palavras. Porque finalmente
tinha percebido que sem palavras, ela não era nada.