sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Do Povo para o Povo


A história de um padre andarilho e suas marcas deixadas na Região

Parte 2

As praças. Parece o melhor lugar para abrigar eternamente um personagem tão ligado ao povo. São em lugares assim, movimentados, cheios de pessoas, risadas, carros, que estão instalados os monumentos em homenagem ao jesuíta. Estátuas que observam atentas, tudo o que acontece ao redor com os olhos sábios de quem carrega a história e se adapta às mudanças.

Sob a luz fraca de um entardecer, Anchieta escreve permanentemente na areia a mensagem “Só a heróis se compete tanta glória”, permanecendo assim em uma das poses mais conhecidas de sua biografia, quando na praia de Iperog escreveu na areia o Poema à Virgem, que só depois foi transcrito.

Dessa forma, ele acompanha o crescimento da movimentada São Vicente, sua tão amada vila, aonde chegou em 1553 e permaneceu por muitos anos. Em tamanho natural, feito de fibra de vidro, ele foi colocado na praça junto a Biquinha de Anchieta, existente desde sua chegada e que foi uma das principais fontes de água da população vicentina durante séculos.

Lá, o jesuíta se voltou ao povo mais simples e explicou por meio do teatro, a essência dos ensinamentos cristãos. Atualmente, é o ponto turístico mais conhecido e visitado da cidade, localizado próximo de onde estava o Colégio de São Vicente.



A Capitania foi o palco de um de seus mais famosos autos, o Auto da Pregação Universal. Ele foi encenado pela primeira vez no Natal de 1561, mas só em 1576 é que a apresentação chegou até São Vicente. Conta-se que no dia uma forte tempestade se aproximava, ameaçando a encenação do auto, prometendo Anchieta que a chuva não cairia. A promessa se cumpriu e a apresentação durou três horas sem nenhuma gota chuva.

Outros textos foram criados, usando o recurso de representações artísticas e teatrais, pois traziam para a catequese a oportunidade de aumentar o interesse dos índios, já que os autos representavam cenas do cotidiano. Além de aproveitar os rituais praticados pelos indígenas, acrescentando a eles referências às festas cristãs.

Um dos temas centrais do Auto da Pregação Universal, com o diálogo entre os demônios, representa bem os rituais das tribos que temiam os espíritos malignos que perturbavam os nativos na floresta.

Porém, não coube à Anchieta somente o teatro, um de seus trabalhos mais admirados e utilizados como base de estudo até os dias atuais é a Gramática da Língua mais Falada no Brasil. Na obra, ele faz uma pesquisa aprofundada sobre o tupi, no entanto como mostra um trecho de uma carta escrita em 31 de maio de 1560, o padre não tinha noção da repercussão e nem da contribuição que estava fazendo.

“Quanto à língua, eu estou nela algum tanto adiante, ainda que é muito pouco para o que soubera, se me não ocuparam em ensinar gramática. Todavia, tenho toda a maneira dela por arte, e para mim tenho entendido quase todo o modo dela. Não a ponho em arte porque não há a quem aproveite. Somente aproveito-me eu dela, e aproveitar-se-ão os que de lá vierem, que souberem gramática”.

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