segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Um canal, um dique e uma caixa d'água caída

Sábado de manhã em Santos era literalmente e sem exageros um dia de muita aventura e que sempre rendiam histórias para contar regadas a muitas risadas, isso é claro só acontecia depois de um certo descanso de toda a adrenalina e a tensão vivida para cumprir a complicada missão de sobreviver ao Agência Facos.

Aquele 10 de abril ficou na história, chuvoso e frio como deveria ser, o frio mais incômodo era o da barriga. O medo do desconhecido e a viagem até a Zona Noroeste, um cenário que ainda não tinha sido usado como pano de fundo para nenhuma matéria.

O Rádio Clube e uma caixa d’água...moradores de uma comunidade vivendo em área de risco teriam de esperar mais para conseguir se mudar. E nada era tão incerto como o futuro daquele Conjunto Habitacional.

Antes de chegar ao local, o que se avistava primeiro não era nenhuma torre caída e nenhum prédio semi-destruído, o que chamava a atenção era o canal que dividia a Vila Gilda e o os prédios recém-construídos. Não tinha sinal de água, mas de esgoto, não era um Rio Tietê, o cheiro não chegava a tanto, mas a quantidade de lixo, plástico e entulho era assustadora. Impossível contar quantas garrafas pets havia ali, impossível dizer o que tinha por baixo da grossa camada de lodo e lixo.



Tudo era um contraste de cores, a lama e o dique, tinham uma mistura de marrom da lama e cinza cimento, o canal era o mais colorido, com o verde da água, se é que aquela camada de líquido ainda era água, das garrafas, dos vidros, o desbotado dos sofás flutuantes.

Aquele certamente não seria um dia comum. A TV Tribuna fazia imagens do local do acidente e assistia o início da demolição do reservatório, depois da entrevista do engenheiro responsável. Estar lá era participar da notícia, era acompanhar e saber que o que os olhos estavam vendo era inédito.

Curiosamente naquela mesma manhã e naquele mesmo bairro acontecia uma outra coisa digna de notícia: um dos muitos mutirões contra a dengue. A TV Tribuna e a Record também estavam lá, mas a primeira entrevista foi conquistada por direito de chegada aos estudantes anônimos cheios de lama. Um pequeno e modesto golpe de sorte e momento de glória : conseguir a primeira entrevista.

Por um momento, ou melhor, por todo o dia e os dias que se seguiram as perguntas que se surgiram não encontraram resposta. Por que o cinegrafista não desviou por um momento a câmera da destruição e não filmou o estado daquele canal? Por que o mutirão de limpeza não chegou até aquele calamitoso canal? Canal este que sustentava a base de pontes, diques, crianças... Pessoas.

Estudo busca causa do acidente no Vila Pelé 2
Na sexta-feira, dia 9 de abril começou a demolição de um dos reservatórios de água do Conjunto Habitacional Vila Pelé 2, no Rádio Clube, localizado na Zona Noroeste. A torre com 30 metros de altura, 120 toneladas e capacidade de armazenar 90 mil litros de água, caiu no dia 1º de abril, atingindo um dos blocos residenciais. Os apartamentos estavam vazios e seriam entregues em um prazo de 45 a 60 dias às famílias do Caminho São José, no Dique da Vila Gilda. A empresa contratada para a demolição é a Desmontec- Demolições e Terraplanagem-, que trabalha em parceria com a Companhia de Habitação de Santos (Cohab) e tem um contrato de 15 dias para a execução do serviço.


Segundo o fiscal e técnico em edificações da Cohab, Geraldo Majela, “ a entrega dos prédios vai acontecer somente após a conclusão do laudo sobre as causas do acidente, que tem Estudo busca causa do acidente no Vila Pelé 2 um prazo de 30 a 60 dias para sua finalização.” Majela conclui acrescentando “sabemos que o problema está na fundação, só não sabemos o quê”.


A análise das causas e o monitoramento das outras caixas d’água já estão acontecendo durante a demolição e os abalos nos prédios estão sendo acompanhados de perto pelos engenheiros e fiscais. O engenheiro responsável, Marcio Brites explica que o prédio não será demolido por inteiro, mas somente a parte mais atingida, já que a estrutura não está toda comprometida. Porém, a finalização da obra também depende do clima, que permanece chuvoso. Segundo Brites, “as caixas d’água foram presas no terreno com estacas de 38 metros de profundidade, por isso eles não têm ideia do que pode ter causado a queda”.


Dayelle Ferreira Silva Martins, moradora de um dos prédios do Conjunto Vila Pelé 2 conta o que aconteceu no dia do acidente. “Não cheguei a escutar o barulho, mas a movimentação dos vizinhos começou entre duas e três da madrugada. Quando nos demos conta do que aconteceu chamamos os Bombeiros e a Polícia, e a água do reservatório começou a vazar por toda a região”, comenta ela. Um dos inconvenientes mais sentidos foi a falta d’água, que durou cerca de 4 horas, e também atingiu o Caminho São Sebastião, a comunidade em frente ao conjunto residencial. Durante os trabalhos de demolição muitos curiosos estavam presentes, mas a apreensão maior era a dos moradores dos outros prédios como Dayelle.


As obras do Conjunto Vila Pelé 2 em terreno de 25 mil m² começaram em julho de 2006, usando recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), e teve um custo estimado em R$ 19 milhões. A estrutura dos 12 prédios do conjunto habitacional foi concluída em abril de 2009 e contava com 40 apartamentos cada um, totalizando 480 moradias. E há um ano estava na fase final de acabamentos.

Um comentário:

Unknown disse...

Isto acontece com o PAR programa de arrendamento residencial do governo federal, onde arrendatarios pagam por obras de qualidade duvidosa que geram gastos e transtornos...E como se não bastasse ainda tem que aceitar as atrocidades das más administradoras licitadas pelo orgão gestor nomeado pelo governo a CEF.
veja mais em www.amopar.org.br