domingo, 11 de julho de 2010

Uma história de pescador

Olhando velhos papéis para organizar meus arquivos encontrei uma história que escrevi quando tinha uns 10 anos, um dos meus primeiros contos que me lembro, logo após minha chegada no litoral paulista.

 
Para conhecer a cidade onde passaríamos muitos anos, todo final de semana visitávamos um novo lugar, principalmente as praias, no entanto viramos “fregueses” de uma pequena praia, escondida entre as pedras do morro dos Itatins mais conhecido como Guaraú, a Prainha.Naquela época, quase deserta, devido a dificuldade de acesso, hoje já mais visitada, gostávamos de estacionar o carro em um lugar estratégico, fácil de sair, próximo da entrada da praia, além de contar com um guardador de carro, que com o tempo nos tornou muito conhecido.

Sempre me interessei muito por história em si, e aquela praia exercia certo fascínio. De algumas pedras tínhamos a visão de um antigo forte construído há séculos, em um lugar que dava a vista da praia, da cidade e do mar. Com pedras cuidadosamente unidas por uma massa de areia, conchas e óleo animal, o cimento da época, a construção estava praticamente intacta, com a altura aproximadamente de um prédio de três andares.

Em nossas visitas freqüentes encontramos caminhos entre trilhas ou escalando pedras tentando chegar cada vez mais perto do forte, eram nossos dias de aventura e caça ao tesouro. Fizemos várias tentativas até conseguir alcançar a frente do lugar... Só que era impossível entrar, pelo menos pela porta da frente.

Passamos a conhecer e descobrir novos caminhos e pequenas praias que circundavam a região antes e depois do forte. Meu pai, que nunca teve muita dificuldade de puxar assunto, conheceu alguns moradores da região, entre eles estava o nosso guardador de carros, o Senhor João. Com o rosto queimado do sol, sofrido, cheio de marcas da idade e da vida difícil, porém conservava a simpatia e o sorriso, muito pobre e idoso, vivia sozinho, e dormia perto de um dos canhões do antigo forte.

Já que não podia entrar na tão desejada construção e inspirada na história do simpático e solitário Senhor João, escrevi o conto “Uma história de pescador”. A narrativa, conta sobre a aventura que João, senhor pescador e solitário, que vive no antigo forte e se vê em uma grande aventura, com um pescador meio louco que lhe convence a irem a busca de um tesouro guardado numa ilha.


O texto na íntegra não será publicado tão cedo, já que precisa de muitas revisões e complementos, que não são muitos importantes quando temos 10 anos. Entretanto, o que ficou não foram as aventuras criadas, mas a história humana e anônima, de um guardador de carros, que para muitos passou despercebido.

 
Há muito tempo não visito a Prainha e nem me aventuro nas proximidades do antigo forte, o senhor João que permaneceu guardando carros durante mais alguns bons anos, já faleceu, mas deixou sua história e sua inspiração na lembrança e nas palavras de um texto, com frases e intenções simples.

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