sábado, 17 de julho de 2010

Verdade, até que ponto?

A missão principal do jornalista é dizer a verdade, ou melhor, o mais próximo que se possa chegar dela. Porém, como buscar este objetivo, se não tivermos ao menos um método para encontrá-lo?

É este método que faltou ao jornalista esportivo Erik Kerman Jr., interpretado por Josh Hartnett no filme “O Resgate de um Campeão”, baseado em uma história real. O jornalista do The Denver Times, frustrado com seu editor, que deixou de publicar algumas de suas matérias sob a justificativa de que lhe faltava emoção e personalidade nos textos, resolve buscar uma chance de escrever uma reportagem na revista.

Durante a entrevista para a revista, Kerman se lembra de um ex-pugilista sem-teto, interpretado por Samuel L. Jackson, que se auto-intitula “Campeão” e afirma ser o antigo lutador de boxe Bob Satterfield. Desta forma, Kerman propõe ao editor uma pauta sobre a história, sem antes ter ao menos, conversado com seu próprio chefe.


Em busca de fama e reconhecimento profissional, além da admiração de seu filho de 6 anos, Erik está disposto a provar que é tão bom quanto seu pai, o famoso radialista e comentarista esportivo. No entanto, durante sua trajetória para conseguir um espaço como um jornalista de talento, Kerman se esquece dos elementos fundamentais do jornalismo e acredita ingenuamente, que o sem-teto seja na verdade o homem que todos acreditam estar morto.


Agarrado a única esperança que parecia lhe restar, o jovem jornalista encobriu a verificação, com a simples afirmação. Em uma única frase, Bill Kovach e Tom Rosenstiel, autores do livro “Os Elementos do Jornalismo”, resumem bem a situação de Erik e “os perigos de publicar relatos factualmente corretos, mas substancialmente não verazes”.


Apurar bem os fatos deveria ser o primeiro mandamento de todos os jornalistas, antes até mesmo de publicar a verdade, já que sem a apuração, ela nada mais é do que um joguete nas mãos das fontes. Factualmente, a história pode ser correta, mas até que ponto se deve acreditar totalmente nas verdades que as fontes dizem?


Não é suficiente relatar um fato verdadeiro, mas a verdade sobre o fato, pois é nela que mora o contexto da história, com a resposta aos porquês. Para isso, a lealdade do jornalista também deve estar ligada à população, e nunca a uma pessoa, partido ou organização política. Entretanto, a total independência não existe, já que um jeito ou de outro o jornalismo tem um papel social e está dentro de um contexto também social.


Outra questão abordada no filme é justamente a responsabilidade do jornalista, aquela poderia ter sido uma simples matéria sobre o resgate de alguém que um dia foi importante e que agora vive nas ruas. No entanto, o personagem principal da reportagem tinha uma família, amigos e também uma história que foi manchada pela matéria inverídica.


É preciso se lembrar que o trabalho de um jornalista tem sempre uma repercussão e um erro cometido, deixará o seu nome sempre lembrado por ele, mesmo que a retratação seja feita com a mesma dimensão.
Mesmo que a verdade, a neutralidade e a imparcialidade não existam completamente na prática jornalística, a sua busca tem que ser contínua, já que ela continua sendo a missão do jornalismo. Como disseram Kovach e Rosenstiel, “obter a informação mais próxima da versão completa da verdade tem conseqüências reais” .


Então até que ponto a verdade está presente no que é publicado?

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